
ARCADE: O Processo
2030. O aquecimento global não foi uma ameaça distante. Foi O Processo. E quando o mundo entrou em colapso, apenas uma coisa importava: sobreviver.
Sobre a História
ARCADE: O Processo
Prólogo: O Último Aviso
São Paulo, Brasil — Março de 2029
Maya Chen ajustou os óculos enquanto revisava os dados pela décima vez naquela noite. Os números não mentiam. Nunca mentiam. E agora, eles gritavam uma verdade que ninguém queria ouvir.
A temperatura média global havia subido 2,8°C desde a era pré-industrial. As geleiras da Groenlândia derretiam três vezes mais rápido que na década anterior. O permafrost siberiano liberava metano em quantidades catastróficas. E o pior: os modelos climáticos indicavam que o ponto de não retorno já havia sido ultrapassado há dois anos.
Ela olhou pela janela do laboratório. Lá fora, São Paulo fervia sob 43°C — em março, que deveria ser outono. As ruas estavam vazias. Quem podia, ficava em casa. Quem não podia, sofria.
— Dra. Chen? — a voz de seu assistente a trouxe de volta. — A conferência começa em dez minutos.
Maya suspirou. Mais uma conferência. Mais gráficos. Mais promessas vazias de políticos que não estariam vivos para ver as consequências de sua inação.
Mas ela tinha que tentar.
Sempre tinha que tentar.
Porque os dados não mentiam.
E eles diziam que a humanidade tinha, no máximo, quinze meses.
Capítulo 1: O Processo
São Paulo, Brasil — Junho de 2030
O dia em que o mundo mudou para sempre começou como qualquer outro dia de calor insuportável.
Maya acordou às 5h da manhã, como sempre. Tomou banho frio — água quente era um luxo do passado. Preparou café com o último pacote que conseguira encontrar no mercado negro. Ligou o ar-condicionado, que roncou por alguns segundos antes de desligar automaticamente.
"Limite de energia atingido", avisou a voz sintética do sistema.
Três horas por dia. Era tudo que o governo permitia agora.
Ela pegou o tablet e verificou as notícias:
- "Incêndios na Amazônia destroem mais 50 mil km² em uma semana"
- "Índia registra 52°C — governo declara estado de emergência"
- "Refugiados climáticos ultrapassam 200 milhões globalmente"
- "ONU convoca reunião de emergência após colapso da corrente do Golfo"
Maya fechou o tablet. Não precisava ler. Ela sabia exatamente o que estava acontecendo.
O Processo.
Era assim que os cientistas chamavam agora. Não "aquecimento global". Não "mudança climática". Essas palavras eram suaves demais, políticas demais.
O Processo era o nome técnico para o colapso em cascata dos sistemas terrestres. Quando um sistema falhava, desencadeava a falha de outro, que desencadeava outro, e outro, até que...
Até que não houvesse mais nada.
Ela olhou pela janela. O céu estava amarelo-acinzentado, uma mistura de fumaça dos incêndios distantes e poeira suspensa pela desertificação acelerada. O termômetro digital marcava 47°C.
E eram apenas 6h da manhã.
Seu celular tocou.
— Maya, você precisa vir ao laboratório. Agora. — Era Dr. Santos, seu colega no Instituto de Pesquisas Climáticas.
— O que aconteceu?
— Os modelos... Maya, os modelos estão mostrando algo impossível.
— Impossível como?
Silêncio.
— Santos?
— A temperatura vai chegar a 60°C até o meio-dia.
Maya sentiu o sangue gelar.
— Isso é...
— Letal. Sim. Ninguém sobrevive a 60°C de temperatura úmida. O corpo humano não consegue se resfriar. É morte certa em poucas horas.
Maya correu para pegar as chaves do carro.
— Eu vou agora.
— Maya... — a voz de Santos tremia. — Não sei se dá tempo.
Capítulo 2: Dia Zero
São Paulo, Brasil — 10h37
O laboratório estava em pânico controlado quando Maya chegou.
Dezenas de cientistas corriam de um lado para o outro, verificando dados, conferindo sensores, tentando entender se aquilo era real ou um erro catastrófico nos modelos.
Não era erro.
— A temperatura está subindo 0,5°C a cada dez minutos — explicou Dr. Santos, apontando para os gráficos nas telas gigantes. — É um feedback loop. O calor está liberando metano do permafrost em quantidades absurdas. O metano está intensificando o efeito estufa. Que libera mais metano. Que...
— Eu entendi — Maya interrompeu. — Quanto tempo temos?
Santos olhou para ela com olhos vermelhos.
— Duas horas. Talvez três.
— E depois?
— Depois, qualquer pessoa que estiver ao ar livre vai morrer.
Maya sentiu as pernas fraquejarem. Ela se apoiou na mesa.
— Precisamos avisar as pessoas.
— O governo já está evacuando quem pode ser evacuado. Mas Maya... são 12 milhões de pessoas só em São Paulo. Não há abrigos suficientes. Não há transporte suficiente. Não há...
— Tempo — ela completou.
O celular de Maya vibrou. Era uma mensagem automática do governo:
"ALERTA MÁXIMO: Temperatura letal prevista para 13h. Procure abrigo imediatamente. Não saia de casa. Feche todas as janelas. Desligue aparelhos eletrônicos desnecessários. Aguarde instruções."
Maya olhou ao redor do laboratório. Todos estavam recebendo a mesma mensagem.
— O que fazemos agora? — perguntou uma jovem pesquisadora, com lágrimas nos olhos.
Maya respirou fundo.
— Agora... agora tentamos salvar quem pudermos.
Capítulo 3: ARCADE
São Paulo, Brasil — 12h15
A temperatura havia atingido 58°C.
Maya estava no subsolo do laboratório, em uma sala refrigerada construída anos atrás para preservar amostras de gelo antártico. Agora, ela preservava pessoas.
Quarenta e três cientistas, técnicos e suas famílias estavam amontoados ali. Entre eles, Luna, a filha de oito anos de Maya.
— Mamãe, está muito quente — Luna reclamou, segurando a mão de Maya.
— Eu sei, querida. Mas aqui estamos seguras.
— E o papai?
Maya sentiu um nó na garganta. O marido dela, Rafael, estava do outro lado da cidade quando o alerta foi emitido. Ela tentara ligar dezenas de vezes.
Sem resposta.
— Ele vai ficar bem — Maya mentiu, acariciando o cabelo da filha.
Dr. Santos se aproximou.
— Maya, precisamos falar sobre ARCADE.
ARCADE. O projeto secreto que o governo brasileiro vinha desenvolvendo há três anos. Um sistema de abrigos subterrâneos projetados para manter a vida humana em condições extremas.
Quando o projeto foi proposto, todos acharam que era paranoia. Agora, era a única esperança.
— Quantos abrigos estão operacionais? — perguntou Maya.
— Doze no Brasil. Cinquenta e sete no mundo.
— E capacidade?
Santos hesitou.
— Cem mil pessoas por abrigo.
Maya fez os cálculos mentalmente.
— Isso dá... 5,7 milhões de pessoas.
— Sim.
— E a população mundial é de 8 bilhões.
Silêncio.
— Maya... — Santos começou.
— Não — ela cortou. — Não me diga que isso é tudo que podemos fazer.
— É tudo que temos tempo de fazer.
Maya olhou para Luna, que brincava com outras crianças no canto da sala, alheias ao apocalipse acontecendo lá fora.
— Como vamos escolher? — ela perguntou, com a voz embargada.
— Já foi escolhido. Cientistas, médicos, engenheiros, militares. Pessoas essenciais para reconstruir.
— E o resto?
Santos não respondeu.
Porque não havia resposta.
Capítulo 4: Evacuação
São Paulo, Brasil — 13h42
O termômetro marcava 62°C quando os ônibus militares chegaram ao laboratório.
Maya segurou Luna pela mão enquanto corriam pelo corredor subterrâneo que ligava o prédio ao ponto de embarque. Ao redor delas, dezenas de pessoas faziam o mesmo.
Correndo.
Sempre correndo.
Mas para onde?
— ATENÇÃO! — a voz de um soldado ecoou pelo alto-falante. — EMBARQUE IMEDIATO! APENAS UMA MALA POR PESSOA! CRIANÇAS TÊM PRIORIDADE!
Maya não trouxera mala. Trouxera apenas Luna.
E um tablet com todos os dados climáticos dos últimos cinquenta anos.
Se a humanidade fosse sobreviver, precisaria entender o que deu errado.
O ônibus estava lotado. Ar-condicionado no máximo. Mesmo assim, o calor era sufocante.
— Mamãe, para onde estamos indo? — Luna perguntou.
— Para um lugar seguro.
— E o papai vai estar lá?
Maya não conseguiu responder. Apenas abraçou a filha mais forte.
O ônibus começou a se mover.
Através das janelas blindadas, Maya viu a cidade.
São Paulo estava vazia.
Carros abandonados nas ruas. Lojas com portas abertas. Semáforos piscando inutilmente.
E corpos.
Muitos corpos.
Pessoas que não conseguiram chegar a tempo. Que tentaram correr, mas o calor foi mais rápido.
Luna não viu. Maya garantiu que ela não visse.
— Feche os olhos, querida — ela sussurrou. — Feche os olhos e pense em algo bonito.
— Como o quê?
— Como... como a neve. Você se lembra da neve?
Luna sorriu.
— A gente foi para Campos do Jordão quando eu tinha cinco anos.
— Isso. Pense na neve. No frio. Na sensação gostosa de estar quentinha dentro de casa enquanto neva lá fora.
— Vai nevar de novo, mamãe?
Maya olhou pela janela.
Lá fora, o mundo estava em chamas.
— Sim — ela mentiu novamente. — Vai nevar de novo.
Capítulo 5: O Abrigo
ARCADE-07, Interior de São Paulo — 16h00
O abrigo ARCADE-07 era uma maravilha da engenharia.
Localizado a 200 metros abaixo da superfície, o complexo tinha capacidade para 100 mil pessoas. Sistemas de reciclagem de ar e água. Fazendas hidropônicas. Geradores de energia geotérmica.
Tudo projetado para manter a vida humana por tempo indeterminado.
Mas nada preparou Maya para a realidade de viver ali.
O abrigo era dividido em setores:
- Setor A: Habitação (apartamentos minúsculos de 20m²)
- Setor B: Produção de alimentos
- Setor C: Pesquisa e desenvolvimento
- Setor D: Administração
- Setor E: Saúde
Maya e Luna foram designadas para o Setor A, Bloco 7, Apartamento 342.
Era uma caixa de concreto com duas camas, uma mesa, um banheiro minúsculo e uma tela de LED na parede que simulava uma janela.
— É aqui que vamos morar? — Luna perguntou, olhando ao redor.
— Por enquanto, sim.
— Não gostei.
— Eu também não, querida. Mas é o que temos.
Luna se jogou na cama e começou a chorar.
Maya se sentou ao lado dela e a abraçou.
— Eu sei que é difícil. Eu sei que você está com medo. Eu também estou. Mas nós vamos ficar bem. Eu prometo.
— Você prometeu que o papai ia ficar bem.
Maya sentiu o coração se partir.
— Luna...
— Ele não está aqui, mamãe. Ele não está aqui e você sabe que ele não vai vir.
— Querida...
— ELE MORREU! — Luna gritou. — O PAPAI MORREU E VOCÊ ESTÁ FINGINDO QUE ESTÁ TUDO BEM!
Maya não conseguiu segurar as lágrimas.
— Você está certa — ela sussurrou. — Eu não sei se ele está bem. Eu não sei se ele conseguiu chegar a um abrigo. Eu não sei de nada. E eu estou apavorada.
Luna olhou para a mãe com olhos vermelhos.
— Então por que você disse que ia ficar tudo bem?
— Porque... porque eu preciso acreditar nisso. Porque se eu não acreditar, eu vou desistir. E eu não posso desistir. Não enquanto você precisar de mim.
Luna abraçou a mãe.
— Eu preciso de você.
— E eu preciso de você.
Elas ficaram assim por longos minutos.
Mãe e filha.
Sobreviventes de um mundo que não existia mais.
Capítulo 6: Adaptação
ARCADE-07 — Três meses depois
A vida no abrigo se tornou uma rotina estranha.
Maya trabalhava no Setor C, analisando dados climáticos e tentando entender se a superfície voltaria a ser habitável algum dia.
As notícias não eram boas.
A temperatura média global havia se estabilizado em 55°C. Qualquer pessoa que saísse ao ar livre morreria em minutos. Os oceanos estavam evaporando. As florestas haviam desaparecido. O planeta estava se transformando em um deserto inabitável.
— Quanto tempo até a Terra voltar ao normal? — perguntou Dr. Santos durante uma reunião.
Maya olhou para os gráficos.
— Definir "normal" é complicado. Mas se você quer saber quando a temperatura vai baixar para níveis habitáveis... mil anos. Talvez dois mil.
Silêncio na sala.
— E se fizermos algo? — perguntou uma jovem engenheira. — Geoengenharia? Sequestro de carbono em massa?
— Isso levaria décadas. E precisaríamos de recursos que não temos mais.
— Então... — Santos hesitou. — Então vamos viver aqui para sempre?
Maya não respondeu.
Porque a resposta era sim.
A humanidade havia se tornado uma espécie subterrânea.
Enquanto isso, Luna estava se adaptando melhor que Maya esperava.
Ela fez amigos na escola do abrigo. Aprendeu a cultivar alface hidropônica. Até começou a gostar da comida sintética (o que Maya considerava um milagre).
Mas à noite, quando achava que Maya estava dormindo, Luna chorava.
Maya ouvia.
E fingia que não ouvia.
Porque não sabia o que dizer.
Como explicar para uma criança de oito anos que o mundo que ela conhecia havia acabado?
Como dizer que ela nunca mais veria o sol?
Que nunca mais sentiria o vento no rosto?
Que nunca mais...
Maya parou de pensar.
Porque se pensasse demais, ela também ia chorar.
E alguém precisava ser forte.
Capítulo 7: Rebelião
ARCADE-07 — Seis meses depois
A primeira rebelião começou no Setor B.
Um grupo de trabalhadores das fazendas hidropônicas se recusou a trabalhar, exigindo melhores condições e mais rações.
A administração do abrigo respondeu cortando o fornecimento de água para o setor.
A situação escalou rapidamente.
— VOCÊS NÃO PODEM NOS TRATAR COMO ESCRAVOS! — gritou um homem, líder dos rebeldes.
— Vocês assinaram um contrato — respondeu o Diretor Gomes, administrador-chefe do ARCADE-07. — Todos aqui têm um papel. Se vocês não cumprirem o seu, o sistema colapsa.
— O SISTEMA JÁ COLAPSOU! — outro rebelde gritou. — O MUNDO LÁ FORA ACABOU! E VOCÊS QUEREM QUE A GENTE TRABALHE 14 HORAS POR DIA PARA SUSTENTAR ESSA PRISÃO!
— Isso não é uma prisão — Gomes disse, calmamente. — É nossa única chance de sobrevivência.
— SOBREVIVÊNCIA PARA QUEM? — uma mulher gritou. — ENQUANTO VOCÊS DO SETOR D TÊM APARTAMENTOS DE 50M², NÓS ESTAMOS AMONTOADOS EM DORMITÓRIOS COM 20 PESSOAS!
Maya assistia de longe.
Ela sabia que isso ia acontecer.
Quando você coloca 100 mil pessoas em um espaço confinado, com recursos limitados e sem esperança de sair, é apenas uma questão de tempo até que a tensão exploda.
— O que você acha que vai acontecer? — Santos perguntou, ao lado dela.
— Acho que vamos descobrir se a humanidade consegue se reinventar... ou se vamos nos destruir antes disso.
A rebelião foi controlada.
Não com violência (ainda bem), mas com negociação.
Os trabalhadores ganharam turnos reduzidos e melhores acomodações.
A administração ganhou paz temporária.
Mas Maya sabia que era apenas o começo.
Porque o verdadeiro problema não era o espaço.
Era a esperança.
Ou a falta dela.
Capítulo 8: Transmissão
ARCADE-07 — Um ano depois
Maya estava no laboratório quando a transmissão chegou.
Era uma mensagem de rádio, vinda da superfície.
— ...alguém... me ouve? — a voz estava cheia de estática. — Aqui é... ARCADE-23... na Escandinávia... precisamos... ajuda...
Maya correu para o painel de comunicação.
— ARCADE-23, aqui é ARCADE-07 no Brasil. Nós ouvimos vocês. Qual é a situação?
Mais estática.
Então:
— ...temperatura... caindo... 48°C... ainda letal mas... respirável com equipamento... precisamos... suprimentos...
Maya sentiu o coração acelerar.
— A temperatura está caindo?
— ...sim... lentamente... modelos indicam... 40°C em cinco anos... talvez... habitável em dez...
Santos olhou para Maya com olhos arregalados.
— Isso significa...
— Que podemos voltar — Maya completou, com lágrimas nos olhos. — Podemos voltar para a superfície.
A notícia se espalhou pelo abrigo como fogo.
Pela primeira vez em um ano, havia esperança.
Luna correu para abraçar Maya quando soube.
— A gente vai poder sair, mamãe?
— Sim, querida. Não agora, mas... sim. Um dia vamos sair.
— E vai ter árvores?
Maya hesitou.
— Não no começo. Mas... vamos plantar. Vamos reconstruir. Vamos fazer o mundo voltar a ser verde.
Luna sorriu.
Foi a primeira vez que Maya a viu sorrir de verdade desde o Dia Zero.
Capítulo 9: Preparação
ARCADE-07 — Cinco anos depois
A temperatura na superfície havia caído para 42°C.
Ainda letal para exposição prolongada, mas respirável com trajes de resfriamento.
As primeiras equipes de exploração foram enviadas.
Maya estava entre elas.
— Você tem certeza disso? — Santos perguntou, enquanto ela vestia o traje.
— Tenho. Eu preciso ver. Preciso saber se... se há algo lá fora.
— E Luna?
— Ela fica aqui. Com você. Se algo der errado...
— Nada vai dar errado.
Maya sorriu tristemente.
— Você disse isso no Dia Zero também.
A superfície era um pesadelo.
Onde antes havia florestas, agora havia deserto.
Onde antes havia cidades, agora havia ruínas.
Onde antes havia vida, agora havia... nada.
Maya caiu de joelhos.
— Meu Deus... — ela sussurrou. — O que nós fizemos?
Ao lado dela, um engenheiro verificava os sensores.
— Radiação solar está 40% acima do normal. Solo completamente estéril. Sem sinais de vida vegetal ou animal.
— E a água?
— Os oceanos evaporaram 30%. O que sobrou está tão quente que está matando qualquer vida marinha restante.
Maya olhou para o céu.
Ele ainda era amarelo-acinzentado.
Mas havia nuvens.
Pela primeira vez em cinco anos, havia nuvens.
— Pode chover — ela disse.
— O quê?
— Se há nuvens, pode chover. E se chover... a temperatura vai cair mais rápido. O solo vai começar a se recuperar. E talvez... talvez haja esperança.
O engenheiro olhou para o céu.
— Você acha mesmo?
Maya pensou em Luna.
Em todas as crianças no abrigo.
Em todas as pessoas que ainda acreditavam que havia um futuro.
— Sim — ela disse. — Eu acho.
Epílogo: Recomeço
ARCADE-07 — Dez anos depois do Dia Zero
Luna tinha dezoito anos quando pisou na superfície pela primeira vez.
A temperatura havia caído para 38°C. Ainda quente, mas suportável com hidratação adequada.
Ela olhou ao redor.
O mundo era marrom. Seco. Morto.
Mas nas mãos dela, havia uma muda de árvore.
— Pronta? — Maya perguntou, ao lado dela.
Luna assentiu.
Juntas, elas cavaram um buraco no solo estéril.
Colocaram a muda.
Regaram com água preciosa.
E esperaram.
— Você acha que vai crescer? — Luna perguntou.
Maya olhou para a filha.
Para a jovem mulher forte e determinada que ela se tornara.
— Sim — ela disse. — Vai crescer. Porque nós não vamos desistir. Nunca.
Luna sorriu.
E pela primeira vez em dez anos, o futuro não parecia tão assustador.
FIM DO LIVRO 1
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